Tabula Rasa

Abril 22 2009

 

É sempre estranha a sensação com que fico quando assisto aos diferentes episódios da série documental "Os Anos da Guerra". Se, por um lado, o gosto por documentários históricos em geral, e pela Guerra de África em particular, me fazem colocar lembretes no telemóvel para não me esquecer do dia em que passa na TV (a idade já não perdoa...), por outro o desconforto é constante.

Por muito que tente, não consigo ficar indiferente ao facto (absolutamente extraordinário) de ser simultaneamente personagem, interprete e espectadora deste programa. Não consigo, também, deixar de pensar no que seria hoje a minha vida se não tivesse havido esta Guerra.

Interrogo-me, ainda, se não será demasiado cedo para se fazer um documentário desta natureza. Será que já se pode falar em distanciamento histórico/temporal face aos acontecimentos relatados? Quando vejo, ao meu lado, olhos marejados fico com a certeza da precipitação...

 

A este propósito "roubei" no blog Arca de Ternura um poema particularmente tocante:

 

"Regressei à minha terra

vindo de Alcácer-Kibir.
Trouxe a memória da guerra

nesta forma de sentir
a morte por todo o lado
uivando como um coiote.


Trago a memória da morte
no sonho despedaçado.

 

Trouxe a memória dos gritos
dos corpos semi-desfeitos,
trago a memória dos mitos
de orgulhos e preconceitos.


Trouxe nos olhos poentes
e horizontes esfumados
dos jovens ludibriados
por mentiras indecentes.

 

Trouxe comigo a derrota,
a mentira, a cobardia
e a miséria que suporta
um resquício de agonia.


Trouxe a mágoa reflectida
no rosto de uma mulher
que já não sabe o que quer:
— se quer a morte ou a vida.

 

Trago a saudade no peito,
trago uma esperança adiada,
trago esta forma sem jeito
de saudar a madrugada
no filho que irá nascer
e nos teus braços dormir,
no cravo que hás-de parir
quando a Paz reverdecer.

 

Não veio comigo o Rei.
Em Alcácer nunca o vi
e no tempo em que lutei
nunca ao meu lado o senti.

 

Estava longe, parece,
longe de mim, da Verdade.


Longe de mim, na Cidade
o Rei jaz morto e apodrece.

 

Vendo bem, não trouxe nada
do muito que então levei.

Trouxe a memória pesada
da vergonha que encontrei
e que regressa comigo:
— o povo que conheci
e contra o qual me bati
não era um povo inimigo!"

 

FERNANDO PEIXOTO
 


Abril 10 2009

publicado por Cristina às 15:00

Abril 09 2009

Já não bastava o mau humor dos últimos dias, os prazos a terminarem ontem e hoje, a chuva e o frio que teimam em não ir embora...compro a Sábado e levo com uma revista suplementar com destinos contra o stress e uma reportagem sobre os melhores SPAS!

Irra!!!

publicado por Cristina às 13:18

Março 10 2009

Interrompi a tarde de trabalho para ir a uma missa, pelo aniversário da morte da minha Avó. Não costumo frequentar a Igreja, ou melhor, vou até com muita frequência a igrejas (que adoro e que considero serem um local de reflexão e de encontro de paz por excelência), mas muito raramente assisto a missas. Com excepção de casamentos (cada vez mais raros), de baptizados (poucos) e funerais (infelizmente, cada vez mais) só vou às missas por intenção dos meus avós, porque sei que para eles isso era muito importante.

Hoje fui, e gostei de ir. Gostei mesmo muito de ir! E gostei de ouvir a homilia, em que se falou de esperança e de crença no futuro. Saí de lá reconfortada. Por momentos deixei de pensar em falências, política, crise e economia.

 

Adenda: Depois fui aqui, onde se fala sobre o caso da menina de 9 anos violada pelo padrasto e que, estando grávida, abortou e foi excomungada, e o encantamento perdeu-se. E lembrei-me porque é que tantas vezes estou de costas voltadas para uma Igreja que não pode, de todo, ser a minha.

publicado por Cristina às 19:32

Fevereiro 19 2009

 

 

(…) Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...

- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.

- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.

- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...

- Sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.

(...)

 

(in O Principezinho de Saint-Exupery, Antoine)

publicado por Cristina às 12:54

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