O contributo de V.O.J.
por sobre o teu corpo
corre um rio translúcido
e há uma canção muito alta
a querer trespassar o nevoeiro
por dentro do teu corpo azul
passa um rio interminável
e uma garganta tenta acender um som
ténue como uma lâmpada
por debaixo da tua língua
passa toda a minha biografia
em busca da casa alta, a que fica
junto ao rio, dentro do corpo
por sob a casa passa o rio
de nós juntos, o que une a cabeça
aos pés do casal deitado.
e o mármore místico das figuras.
dentro da boca entreaberta
fios de som azul tentam unir-se
numa canção que chame o nevoeiro
que faça correr a água
que faça correr a casa
e os sifões de rios que sob ela passam
noite e dia, do passado para o futuro
e de cima para baixo, em queda ou voo
bebemos pela mesma garganta
essa água azul, esse sangue interminável
que nos atravessa o corpo, a casa,
e queremos encontrar o chão onde unirmos
o grito ao nevoeiro
o espasmo ao espanto
as cores, as luzes, as geografias.
as tuas peúgas ficaram caídas
sobre o livro meio aberto
entre paredes de cal, no chão,
procuramos o local mais propício
enquanto um silvo tenta erguer-se
noutra época
entre os candeeiros acordados,
ou um som de comboio aéreo
atravessa o meio da noite;
e sob os seus rails passa um rio;
e sob o seu rio está a casa;
e sob a casa estamos os dois inumados.
mas passa o nevoeiro, sempre,
sobre a nossa confusão.
V.O.J. (Março 2009)