Tabula Rasa

Maio 27 2009

Acreditava naquela história 

do homem que nunca chora.

 

Eu julgava-me um homem.

 

Na adolescência

meus filmes de aventuras

punham-me muito longe de ser cobarde

na arrogante criancice do herói de ferro.

 

Agora tremo.

E agora choro.

 

Como um homem treme.

Como chora um homem!

 

"Um homem nunca chora", António Craveirinha

 

 

publicado por Cristina às 11:34

Março 24 2009

 

 

 

Terminou a nossa pequena festa da Poesia! Muito obrigada a todos os que responderam ao desafio para festejar o Dia Mundial da Poesia. O vosso contributo proporcionou momentos de grande beleza, com o toque único de um poema.

Quero assim agradecer expressamente a todos os que enviaram um poema: Cobra, Sofia, Aventura dos Sentidos, V.O.J.,E. Ana Sã, Lúcia, Mia e Cleopatra que nos deram a oportunidade de ler Madre Teresa de Calcutá, Sophia de Mello Breyner Andersen, José Régio, Vítor Oliveira Jorge, António Gedeão, Ana Sã, Joaquim Pessoa, (mais) Sophia e Natália Correia.

Algumas das pessoas que responderam ao desafio são amigos de longa data. Outros, embora não os conheça pessoalmente, são pessoas que já considero amigas, não só porque as vou conhecendo aos poucos através dos respectivos blogues mas, principalmente, porque fazem parte do meu dia-a-dia e contribuem para que eu me sinta bem e feliz. Para mim, isso é amizade!

Fica a promesa de, para o ano se repetir esta festa da Poesia.

Mais uma vez, obrigada!

publicado por Cristina às 12:33

Março 23 2009

O contributo da Cleopatra.

 

O sol nas noites e o luar nos dias 

 

De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

O Sol nas Noites e o Luar nos Dias, II

NATÁLIA CORREIA

publicado por Cristina às 23:26

Março 23 2009

O contributo da Mia

 

Bebido o luar 

 

Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.


Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.


Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.

 

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

publicado por Cristina às 23:21

Março 23 2009

O contributo da Lúcia

 

Não Vou pôr-te Flores de Laranjeira nos Cabelos

Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo
nem fazer explodir a madrugada nos teus olhos.

Eu quero apenas amar-te lentamente
como se todo o tempo fosse nosso
como se todo o tempo fosse pouco
como se nem sequer houvesse tempo.

Soltar os teus seios.
Despir as tuas ancas.
Apunhalar de amor o teu ventre.

(Joaquim Pessoa)

 



 

publicado por Cristina às 15:46

Março 22 2009

O contributo de Ana Sã

 

o ciclo do olhar 1

 

no vidro embaciado
plano de condensação
escorrem os ramais
da astrologia imediata

concentra-se calor
num cântico de palavras comprimidas
silêncio e tempo seguem em diante
com o rigor de engenharia mecânica:

o poema nasceu neste instante.

 

 

Ana Sã, 2003

 

publicado por Cristina às 22:54

Março 22 2009

O contributo de E.

 

Poema do alegre desespero

 

Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,

ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.

Compreende-se.

E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
(o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império)
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,

e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,
e os poemas de António Gedeão.

Compreende-se.

Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.

Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.

E o nosso sofrimento para que serviu afinal?

 

António Gedeão.

publicado por Cristina às 22:42

Março 22 2009

 

 

O contributo de V.O.J.

 

 

por sobre o teu corpo
corre um rio translúcido
e há uma canção muito alta
a querer trespassar o nevoeiro


por dentro do teu corpo azul
passa um rio interminável
e uma garganta tenta acender um som

ténue como uma lâmpada

 

por debaixo da tua língua

passa toda a minha biografia
em busca da casa alta, a que fica
junto ao rio, dentro do corpo

por sob a casa passa o rio
de nós juntos, o que une a cabeça
aos pés do casal deitado.
e o mármore místico das figuras.

 

dentro da boca entreaberta
fios de som azul tentam unir-se
numa canção que chame o nevoeiro
que faça correr a água

que faça correr a casa
e os sifões de rios que sob ela passam
noite e dia, do passado para o futuro
e de cima para baixo, em queda ou voo

 

bebemos pela mesma garganta
essa água azul, esse sangue interminável
que nos atravessa o corpo, a casa,
e queremos encontrar o chão onde unirmos

o grito ao nevoeiro
o espasmo ao espanto
as cores, as luzes, as geografias.

as tuas peúgas ficaram caídas
sobre o livro meio aberto

entre paredes de cal, no chão,
procuramos o local mais propício


enquanto um silvo tenta erguer-se
noutra época

entre os candeeiros acordados,
ou um som de comboio aéreo
atravessa o meio da noite;

e sob os seus rails passa um rio;
e sob o seu rio está a casa;
e sob a casa estamos os dois inumados.

mas passa o nevoeiro, sempre,
sobre a nossa confusão.

V.O.J. (Março 2009)

publicado por Cristina às 07:41

Março 21 2009

O contributo da Aventura dos Sentidos

 

"Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce! "

José Régio

publicado por Cristina às 21:11

Março 21 2009

O contributo da Sofia

 

"Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

   

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa


Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.


Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas."


Sophia de Mello Breyner Andersen

publicado por Cristina às 12:30

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