Após cinco anos e sete meses com uma cirurgia muito delicada, exames complicados, intermináveis e inenarráveis sessões de quimioterapia, a minhã Mãe teve alta da Oncologia!
Sou avessa a posts "lamechas" e exposições desnecessárias da vida privada mas, neste caso, abro uma excepção. E faço-o em nome da coragem demonstrada pela minha Mãe, do profissionalismo demonstrado pela equipa do Dr. Rui Nabiço do Hospital de S. Marcos, em Braga e, principalmente, por poder partilhar uma vitória sofrida. Vitória essa que espero possa servir de alento a quem ainda atravessa a tempestade.
À minha "guerreira" um beijo de Parabéns do tamanho do Mundo!
Que o meu afilhado me enviou por carta e me encheram de felicidade e ternura.
Obrigada, Gu.!
Vítor Oliveira Jorge, Professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Arqueólogo e Poeta, pessoa que muito admiro e por quem nutro verdadeira estima e consideração, foi o vencedor do Concurso de Textos de Amor do Museu Nacional da Imprensa, com um poema intitulado “Margem”.
A escolha feita pelo júri resultou da análise de mais de 300 textos enviados para a oitava edição do concurso que aquele museu promove desde 2001, no intuito de estimular a escrita lírica portuguesa.
Reproduz-se aqui, com a devida vénia, o poema vencedor.
Parabéns ao Professor Vítor e à Professora Susana, a sua musa inspiradora.
MARGEM
Dantes, quando pousavas
Em qualquer beira, como pássaro
Magnífico;
E o teu corpo, os seus poros,
Atraíam as ondas,
Os uivos litorais dos bandos;
Dantes, quando era possível
Cantar uma ária inteira
Caminhando sempre na mesma praia Sem vir ninguém,
A não ser o inverno, as suas Grandes ondas gordas, azuis, paradas;
E as rochas em que te sentavas
Em risco de rasgar a pele nas asperezas,
Eram também azuis;
E o teu olhar puxava a camisola para baixo,
Como se fingisses proteger-te da nudez
Perante um eu, um mim, que de facto
Acalentavas já dentro de ti.
Dantes, quando eu olhava os teus pés
Como um sinal da fragilidade em que assentava
Toda a tua arquitectura,
E te dizia:
É bom que eu os veja já com saudade,
Para não ser mais tarde surpreendido;
E mais tarde apenas me repetir
Quando te vir de novo pousar sobre a falésia
Como um pássaro, para me visitares
E, tal como hoje, não me dizeres nada:
Porque, contra tudo o que seria de esperar
Me possuis, e a tua presença bate aqui -
Como uma maresia distante, como uma praia
À noite, para um cego que não sabe
O que vai acontecer,
Mas no entanto caminha
Na aspereza das rochas,
Fascinado pelo iodo, pelo ruído
De um outro mundo Que vem dar a este limite:
O tacto, as nádegas sobre a rocha.
Esse conhecimento.
voj 2008
para a susana
(in CASA DAS MÁQUINAS, Porto, Papiro Editora, 2008)