Vítor Oliveira Jorge, Professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Arqueólogo e Poeta, pessoa que muito admiro e por quem nutro verdadeira estima e consideração, foi o vencedor do Concurso de Textos de Amor do Museu Nacional da Imprensa, com um poema intitulado “Margem”.
A escolha feita pelo júri resultou da análise de mais de 300 textos enviados para a oitava edição do concurso que aquele museu promove desde 2001, no intuito de estimular a escrita lírica portuguesa.
Reproduz-se aqui, com a devida vénia, o poema vencedor.
Parabéns ao Professor Vítor e à Professora Susana, a sua musa inspiradora.
MARGEM
Dantes, quando pousavas
Em qualquer beira, como pássaro
Magnífico;
E o teu corpo, os seus poros,
Atraíam as ondas,
Os uivos litorais dos bandos;
Dantes, quando era possível
Cantar uma ária inteira
Caminhando sempre na mesma praia Sem vir ninguém,
A não ser o inverno, as suas Grandes ondas gordas, azuis, paradas;
E as rochas em que te sentavas
Em risco de rasgar a pele nas asperezas,
Eram também azuis;
E o teu olhar puxava a camisola para baixo,
Como se fingisses proteger-te da nudez
Perante um eu, um mim, que de facto
Acalentavas já dentro de ti.
Dantes, quando eu olhava os teus pés
Como um sinal da fragilidade em que assentava
Toda a tua arquitectura,
E te dizia:
É bom que eu os veja já com saudade,
Para não ser mais tarde surpreendido;
E mais tarde apenas me repetir
Quando te vir de novo pousar sobre a falésia
Como um pássaro, para me visitares
E, tal como hoje, não me dizeres nada:
Porque, contra tudo o que seria de esperar
Me possuis, e a tua presença bate aqui -
Como uma maresia distante, como uma praia
À noite, para um cego que não sabe
O que vai acontecer,
Mas no entanto caminha
Na aspereza das rochas,
Fascinado pelo iodo, pelo ruído
De um outro mundo Que vem dar a este limite:
O tacto, as nádegas sobre a rocha.
Esse conhecimento.
voj 2008
para a susana
(in CASA DAS MÁQUINAS, Porto, Papiro Editora, 2008)